Um pouco de história


Os primeiros pratos datam de aproximadamente 2.000 a.C. , no Oriente. O prato surgiu praticamente junto com a Idade do Bronze, e era mais um instrumento bélico utilizado para intimidar os inimigos que propriamente um instrumento musical. A foto ao lado é de um prato grego datado de 500 a.C. Obviamente não eram instrumentos refinados como os atuais, e estavam mais para gongos que para pratos. O prato com as características "modernas" surgiu possivelmente no século XVII d.C. na região da Anatólia (hoje Turquia), voltado para o uso sacerdotal e bélico. A China desenvolveu uam tecnologia própria para fabricação de seus gongos e pratos, paralelamente à tecnologia turca. O Ocidente assimilou as duas tecnologias e atualmente são produzidos pratos de todos os tipos com todas as tecnologias. Hoje em dia é muito fácil encontrar "Chinas" turcos e Rides chineses no mercado.

Anatomia de um Prato


Embora haja experiências com pratos feitos com materiais orgânicos (resina, fibra), vamos assumir que todos os pratos sejam feitos de metal. O metal utilizado é geralmente uma liga metálica. As ligas mais utilizadas são bronze e latão. O latão é uma liga composta de Cobre, Zinco e eventualmente Fósforo e/ou Níquel. O bronze é composto de Cobre e Estanho. Cada uma das ligas pode ter diferentes proporções de cada metal. Estas proporções influem diretamente sobre o modo como o metal vai reagir quando percutido. Ligas mais "moles" tendem a vibrar menos e com menor intensidade. Ligas mais "duras" possibilitam um som mais brilhante e intenso. O latão utiliza metais mais baratos em sua composição, daí o menor custo. Por outro lado, o latão é uma liga mais "mole", que resulta em um som menos rico que o bronze.
No caso do bronze, é a proporção de estanho que vai determinar o "padrão" da liga. O chamado Bronze B8 é uma bronze com 8% de Estanho. O B20 tem 20% de Estanho e assim por diante. Os fabricantes "top" afirmam que além do cobre e estanho, entram na liga metais nobres como Cromo, Ouro, Titânio, Prata e Platina em quantidades ínfimas. Na verdade, há um grande segredo industrial em torno da composição exata das ligas de bronze e jamais teremos certeza sobre ela. A liga B20 é a mais prestigiada entre os fabricantes de pratos de primeira linha porque tem características que possibilitam boa resposta ao martelamento manual e resultam em um som mais exclusivo e rico que as outras ligas. A liga B20 também tem maior elasticidade, que se traduz em maior resistência. Existem no mercado opções intermediárias de ligas B12 e B15, com diferentes resultados sonoros.
Um prato convencional tem três regiões distintas: a cúpula (Bell), o corpo e a borda. A cúpula é a parte mais arredondada que circunda o furo central; o corpo é a superfície quase plana do prato e a borda é a região periférica do prato. Cada região pode ser moldada de modos distintos quanto à espessura, acabamento da superfície, desenho, tamanho, curvatura, e provavelmente mais alguma coisa que eu devo estar esquecendo. A partir do ponto de contato da baqueta vão ocorrer ondas provocadas pela deformação do prato que se propagam por sua superfície. O ar circundante à superficie vibra em ressonância e propaga o som do prato. De todo modo, quando um prato é percutido, é a interação entre as vibrações nestas três regiões que vai determinar as características sonoras do prato.

Design x Som: tudo a ver

O design de um prato influencia diretamente o seu som. Pra entender melhor o que vou escrever é importante conhecer alguns termos utilizados para se descrever o som de um prato. Estes termos também podem ser vistos no glossário.

Curva sonora
Quando um prato (ou tambor) é percutido, o volume do som resultante pode ser representado em um gráfico que tem três partes: a primeira parte é conhecida como ataque; a segunda é conhecida como sustain e a terceira como decay. A rigor, todo som tem estas partes. Em um instrumento de percussão, pode-se chamar de nota o som produzido por um golpe da baqueta.
O ataque corresponde à fase em que se parte do silêncio até o pico (o máximo de volume) que a nota atinge. A seguir vem o sustain, que é a fase em que o som da nota mantém um nível mais ou menos constante. O final da curva é o decay, que é a fase em que o som da nota vai diminuindo até chegar novamente ao silêncio.
Assim, quando falamos em "bastante ataque", significa que o prato atinge rapidamente o volume máximo ao ser percutido. Quando falamos em "sustain longo", significa que o prato soa por bastante tempo após ser percutido. Quando um prato (exceto o chimbal fechado, que tem o sustain extremamente curto) é percutido seguidamente, impedimos que a nota atinja a fase de decay. O resultado é um som composto de ataques e sustain.
Muitos dos termos utilizados para se descrever o som de um prato foram criados por equipes de marketing que tentavam descrever em palavras o som emitido pelo respectivo prato.
Assim, temos termos como "Dark" (escuro), que significa um prato com tonalidade mais grave; "Dry"(seco), que é um prato que tem sustain curto e decay rápido; "Projection" e "Power", que descrevem pratos que atingem alto volume; "Ping", que é uma onomatopéia que reproduz um som "dry"com bastante ataque.
Outro termo importante quando se fala em som de pratos é "overtone". O termo "overtone" pode ser traduzidos como "harmônicos". Os harmônicos são aqueles sons secundários que ouvimos principalmente durante a fase de sustain da nota do prato. É basicamente aquele "shhhhh" que aparece quando percutimos um prato repetidamente. Pratos "Dry" e "Ping" têm poucos harmônicos. Os harmônicos também são responsáveis pelo timbre do prato. Eu, pessoalmente, escolho meus pratos pelos harmônicos que eles produzem.

O design de um prato, ou seja, a maneira como ele é moldado, torneado e eventualmente martelado, influi diretamente nas suas características sonoras. Existem muitas variáveis a serem consideradas no design de um prato.

Espessura
A espessura do prato tem a ver diretamente com a massa do prato. Quanto maior a massa, maior a energia a ser empregada, mas maior é o volume final. Traduzindo: um prato grosso fala alto mas vc tem que descer o braço pra conseguir isso. Além do volume final, maior massa resulta em maior inércia, ou seja, o prato soa por mais tempo (maior sustain).

Curvatura
Se cortarmos um prato ao meio e observarmos a linha de corte pelo perfil, verificamos que não é só a cúpula que é curva. O corpo e a borda também são curvos e a própria curvatura não é uniforme. Um caso de curvatura extrema seria um sino. A curvatura auxilia na manutenção do sustain do prato por facilitar a dispersão das ondas na superfície do prato. Assim, pratos mais planos tendem a ter menos sustain que pratos mais curvos. Comparem o som de um China com um Crash, considerando apenas o sustain e vcs vão entender do estou falando.

Diâmetro
O diâmetro do prato tem a ver também com sua massa, assim como a espessura, e influencia diretamente o volume e o sustain. Além disso, variações no diâmetro variam a tonalidade do prato (maior diâmetro, mais grave, e vice-versa).

Proporção da cúpula
Pratos de diâmetros iguais podem ter sons bastante diferentes. A proporção entre o diâmetro da cúpula e o diâmetro total do prato é responsável por isso.. Cúpulas maiores tornam o prato mais "duro" (é necessária maior força para se atingir o pico de volume e um sustain razoável), mas o sustain é mais longo e o timbre tende a ser mais agudo.

"Tapering"
De volta ao nosso prato cortado ao meio, podemos verificar que a espessura também não é uniforme. Existem pratos com bordas muito finas e pratos com bordas mais espessas. O "tapering" é o quanto a espessura vai diminuindo a partir da parte mais central do corpo do prato. O "tapering" tem as mesmas influências que a espessura, mas também determina como as ondas vão se propagar pelo prato, e o modo como o prato vai responder ao golpe. Pratos com bordas finas "abrem" (atingem o pico do ataque) mais facilmente, mas tendem a ter sustain mais curto. Pratos com pouco "tapering" se comportam de maneira inversa.

Martelamento
O martelamento visa criar distorções na superfície do prato de modo a criar interações entre as ondas que a percorrem. Estas interações criam ondas secundárias que interagem com outras e assim por diante. A diferença que um martelamento faz é bastante sutil, mas faz toda a diferença no timbre final. Pratos submetidos a martelamento mecânico são mais "iguais" entre si, o que pode ser uma vantagem. Pratos submetidos a martelamento manual são, em última análise, únicos, já que o fator humano faz com que não existam dois pratos exatamente com o mesmo martelamento. Como dito acima, pratos em bronze B20 respondem melhor ao martelamento manual que os feitos em B8. Na verdade, o martelamento manual tem grande peso no preço final do prato, pois é feito por um artesão treinado e normalmente com um belo salário. É por isso que os pratos submetidos a martelamento manual são bem mais caros que os submetidos a martelamento mecânico. Quem tiver um prato "top", portanto, lembre-se que ele passou por um cara que ficou horas martelando e "afinando" seu prato até ele ficar como está.

Acabamento da superfície
Vocês devem ter notado que existem pratos que são bastante brilhantes e outros são mais opacos. Embora a finalidade do polimento seja principalmente no visual, o tipo de superfície do prato também tem influência no som. Pratos mais "crus", apresentam ranhuras em sua superfície que dissipam as ondas e as transmitem para o ar de um modo que surgem ondas secundárias próximas à superfície. Em um prato polido, as ondas são transmitidas para o ar de modo mais uniforme. Assim, um prato polido (acabamento "Brilliant") tende a ter um som mais cristalino, mas um prato sem o polimento tem som mais complexo. Alguns músicos acham que os pratos polidos também tem o som mais apagado que os similares sem polimento, mas sinceramente, nunca percebi esta diferença.

Tipos de pratos e suas aplicações

Nos primórdios da bateria, no início do século XX, os pratos não tinham função especializada. Os mesmos pratos eram usados para conduzir e atacar, sem distinção. Com o tempo, foram sendo desenvolvidas tecnologias que permitiam projetar um prato para uma sonoridade com função mais específica. Quando falamos em “tipos de pratos”, na verdade, estamos falando de pratos projetados para determinadas funções dentro do kit. No entanto, isto não impede em nada que o prato seja utilizado para uma finalidade diferente para a qual foi projetado. Assim, fique à vontade para crashear seu Ping Ride, ou usar seu splash de 10” para conduzir. Se o som funcionar, ótimo. Música é isso. Abaixo, vou descrever algumas características dos tipos de pratos mais comuns vistos nos kits por aí.



Ride

O Ride (ou prato de condução) é o prato utilizado para conduzir o groove. Condução é a parte do groove que segue continuamente e serve como uma base para se colocar as batidas acentuadas (geralmente caixa e bumbo). A condução geralmente é feita no Ride ou nos Hi-Hats (ou chimbal, ou chipo). Na minha opinião, o Ride é o mais nobre dos pratos, pois permite uma variedade muito grande de sons devido ao seu desenho. Existem rides mais “secos” (os Dry e Ping rides) e mais ricos em harmônicos. Os harmônicos são mais agudos e cortantes em pratos usados em rock/pop e mais graves e encorpados em pratos usados em jazz e blues. Os tamanhos de rides mais utilizados estão entre 18” e 22”, embora existam rides de até 24”. Esse tamanho todo é necessário para impedir que os harmônicos produzidos durante o sustain se somem e resultem em um som com mais volume que os ataques. Em um ride é importante que os ataques da onda sonora sejam bem definidos. A grande superfície também permite que sejam exploradas diversas regiões do prato, com resultados sonoros bastante diversos. Normalmente, um ride tem um ou dois “sweet spots” (“pontos doces”) que são regiões em que o prato soa melhor quando tocado.Um tipo exótico de ride é o “Flat ride”, que é um prato sem cúpula. Os flat rides são pratos com som mais seco e pouco volume, mais utilizados em jazz. Os chamados “Crash-Rides” são pratos com características intermediárias entre o Crash e o Ride, que possibilita seu uso tanto para condução como para ataque. Neste caso, a condução é rica em harmônicos e o crash é bem grave e volumoso, com bastante sustain.


Crash

O Crash (ou prato de ataque) é o prato usado para realizar acentuações enxertadas no groove. Normalmente é tocado durante os fills (viradas). As características de um crash são um som explosivo, que tenha ataque rápido e um sustain prolongado e com volume. As medidas mais utilizadas nos crashes vão de 14” a 19”. Existem crashes de até 21”.



Hi-Hats

O termo “Hi-Hats” (ou chimbal, ou chipo, ou simplesmente “hats”) é usado para definir o par de pratos montados em uma estante especial (máquina de chimbal) que permite que os pratos sejam tocados um contra o outro através de um pedal. O uso mais comum dos hats atualmente é também para condução, com os pratos em posição “fechada” (pedal acionado) e tocados com a baqueta. Isso gera um som com um ataque muito bem definido e com um sustain muito curto, quase inexistente, ideal para condução de ritmos mais modernos. Diferentes posições do pedal, em conjunto com os toques de baqueta, permitem também obter uma grande variedade de sons. Os hats de melhor qualidade são pares com pratos diferentes entre si. O prato de baixo (conhecido como “bottom”) é mais pesado e é responsável pelo timbre geral e volume do conjunto. O prato de cima (conhecido como “top”) é responsável pelo ataque e sonoridade do “chick” (som tocado com o pé), bem como o timbre do som de abertura. O som de abertura é obtido quando o chimbal é “aberto” ( o pedal é solto) logo após o toque da baqueta.

Splash

O splash é um prato de efeito derivado do crash. Alguns percussionistas e bateristas de reggae e jazz sentiram a necessidade de um som de crash com menor volume, mais ataque e menos sustain que os crashes convencionais. O splash
pode ser usado em frases curtas no meio do groove (“licks”), sem que este seja interrompido, como no caso de um fill. Um baterista que fez uso exemplar dos splashes é Stewart Copeland, do The Police. Copeland criou grooves inéditos e originais usando padrões de combinação entre os hats e os splashes. Confiram em “Walking on the Moon”, por exemplo.


China

O China Crash (ou simplesmente China – lê-se em inglês e se pronuncia “tcháina”) é um prato de efeito inicialmente usado por percussionistas, mas foi rapidamente adotado pelos bateras de fusion e daí pro rock foi um passo. Os chinas têm seu design derivado dos gongos chineses e seus sons lembram vagamente os de um gongo. O design é bem diferente de um prato convencional: a principal característica é a sua borda invertida; a cúpula é rasa e pode ser achatada. Normalmente são montados de modo invertido: a cúpula é voltada para baixo e a borda invertida acaba voltada para baixo também. São pratos com ataque médio e sustain curto com muito volume. O timbre é quase sempre “sujo”, áspero, por vezes até desagradável, mas quando bem colocado, cria um efeito muito interessante. Pode ser utilizado para condução (Neil Peart domina esta técnica muito bem – ouçam os minutos finais de Subdivisions) ou ataque. Terry Bozzio utiliza chinas em grande quantidade em seu kit monstruoso para poder criar padrões de groove combinado os diferentes sons.


Swish

O Swish é um ride modificado para aumentar o sustain. A modificação consiste em colocar rebites (poucos, de 2 a 5) em furos feitos no corpo do prato. Ao se percutir o prato, as ondas induzem um vibração nos rebites , que por sua vez criam novas ondas no prato e assim por diante. Este prato é geralmente utilizado em Jazz.

Swish Knocker

O Swish Knocker é um China com rebites. Tem um som mais sujo e agressivo que o china normal e é utilizado como prato de efeito, principalmente por percussionistas.

 
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